Prémio ICNF - Fundo Ambiental

Com 84 candidaturas recebidas, a Montis viu o seu projeto "O caminho da suavidade", no âmbito do Prémio ICNF - Uma Ideia Natural 2017 ser um dos três projetos vencedores que serão objeto de financiamento.



Descrição do projeto:

O projeto tem uma base geral de restauro de habitats e aumento da resiliência ao fogo, usando-o como técnica de gestão, mas tem efeitos positivos na recuperação de espécies e valorização do território, não se dirigindo especificamente para a manutenção de habitats.

A MONTIS - Associação de Conservação da Natureza é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos e de âmbito nacional que tem como objectivo central gerir territórios, com objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade.

A filosofia central de atuação assenta no conhecimento dos processos naturais para os conduzir de forma favorável aos objectivos de gestão. Por exemplo, em detrimento de ações de plantação de árvores (que fazemos, complementarmente), preferimos usar técnicas de engenharia natural que retenham solo, nutrientes e água, como forma de aumentar o capital natural e permitir uma regeneração natural mais rápida e pujante.

O projeto objecto desta candidatura diz respeito à gestão de uma área de 100 hectares do baldio de Carvalhais, freguesia de Carvalhais, São Pedro do Sul, que nos foi cedida por um período, renovável, de dez anos.

A área em causa, situa-se no terço superior da serra da Arada, e não tem formações vegetais maduras. Corresponde à evolução de uma área tradicional de pastoreio, neste momento inexistente, sendo percorrida por fogos com um período de retorno de cerca de dez anos.
Os objectivos de gestão estão alinhados com as orientações de gestão previstas para o sítio PTCON00047, serras da Freita e Arada, visando aumentar o conteúdo biológico da área, tendo em atenção as condições desfavoráveis de clima, fogos frequentes e solos muito depauperados.
Embora o projeto não tenha medidas específicas para a conservação do lobo, tem objectivos de gestão que, a prazo, pretendem beneficiar a população de corços, em articulação com os programas de repovoamento que estão a ocorrer na região, aumentando as matas ripícolas, os bosquetes e o mosaico de habitats.

Os incêndios e as queimadas são identificados, no Plano Sectorial da Rede Natura, como dos maiores factores de ameaça à conservação dos valores protegidos pela diretiva Habitats, e, também por isso, o projeto tem a gestão do fogo como uma trave mestra do seu desenvolvimento, integrando o fogo como ferramenta de gestão, não procurando excluí-lo do sistema.

Muitas das orientações de gestão específicas identificadas para o sítio estão integradas no modelo de gestão que está em aplicação, nomeadamente, Salvaguarda de habitats higrófilos e afloramentos rochosos; Medidas dirigidas para a salvaguarda de manchas de carvalhais e outras folhosas autóctones, nomeadamente vegetação ribeirinha (freixiais, amiais e salgueirais); Incremento das presas naturais do lobo; Assegurar o mosaico de habitats; Promover a regeneração natural; Promover sebes, bosquetes e arbustos; Recuperar povoamentos florestais autóctones; Conservar vegetação dos estratos herbáceo e arbustivo e Reduzir o risco de incêndio.

Ao longo de 2016 foram desenvolvidos esforços para captar recursos passiveis de apoiar uma gestão ativa e enriquecedora da biodiversidade existente. Através de uma campanha de crowdfunding intitulada “E TU E EU O QUE TEMOS QUE FAZER?”, foram angariados 17 131 €, a ser alocados em ações de gestão diversas, umas com carácter mais lúdico, outras com componentes mais fortes de formação e capacitação garantindo aproximadamente 291 dias de trabalho na propriedade.

A campanha foi acompanhada de uma forte componente de comunicação dedicada a captar capital social através de ações de envolvimento da sociedade civil na gestão do território.

O modelo de gestão escolhido, articulando gestão profissional e envolvimento das pessoas comuns na gestão de espaços naturais, ajuda o projeto a ganhar raízes mais sólidas, criando sustentabilidade a médio e longo prazo.

As ações de gestão vão de encontro a 3 pontos fundamentais: apoiar os processos naturais, garantir as condições para uso público e ações de suporte.

Apoiar os processos naturais:

Objetivo principal: Aumento da biodiversidade global do terreno
(em especial para os grupos que respondem mais rapidamente às ações de gestão: 1) flora, em especial herbáceas e arbustos; 2) invertebrados; 3) aves; 4) mamíferos)
Sub-objetivo 1: Reconstituição das galerias ripícolas
Sub-objetivo 2: Melhoria das condições para a recuperação da vegetação
Sub-objetivo 3: Aumento de abrigos para a fauna
Sub-objetivo 4: Aumento da disponibilidade alimentar para grupos de fauna
Sub-objetivo 5: Aumento da diversidade do banco de sementes
Sub-objetivo 6: Criação/ manutenção de bosquetes com alta densidade
Sub-objectivo 7: Aumento da resiliência aos riscos naturais

Garantir as condições para uso público
- Criação de acessos dentro da propriedade, que garantam o atravessamento ou chegada aos pontos de interesse.

Ações de suporte
- Produção de informação (levantamentos de fauna e flora);
- Demarcação dos limites da área;

Em concreto, e dada a ocupação quase total da área por giestais altos, o fogo controlado é uma ferramenta estratégica para a criação de oportunidades de gestão, possibilitando a gestão da paisagem em mosaico e uma gestão de combustíveis que assegure melhores condições para a realização das intervenções posteriores. Ao mesmo tempo consegue-se uma maior resiliência ao fogo a curto e médio prazo, minimizando os seus efeitos quando ocorrer um fogo de Verão, e potenciando o potencial de recuperação pós-fogo, de forma a mais rapidamente criar condições mais favoráveis para diminuir a regressão causada pelos fogos de Verão.

Em Fevereiro de 2017 realizou-se um fogo controlado numa área de 20 ha, localizada no extremo leste da propriedade, criando descontinuidade de combustível e oportunidade de combate no lado da maior probabilidade de proveniência de futuros incêndios. No dia 4 de Outubro, foi submetido à Comissão Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, um Plano de Fogo Controlado para o intervalo temporal de 2017 – 2022, o qual prevê a constituição de 3 parcelas intervencionadas por fogo controlado (correspondentes a cerca de 50 % da propriedade), com duas operações por parcela, separadas por um intervalo de 4 anos.

Os períodos de quatro anos entre dois fogos controlados são usados para apoiar a regeneração natural, aumentar a densidade de propágulos existentes (há uma notória falta de fontes dadoras de bolota, por exemplo) e fazer pequenos bosquetes de elevada densidade de plantação que serão resguardados dos fogos seguintes até que a sombra do copado controlo os matos junto ao solo e os torne resilientes a qualquer tipo de fogo, controlado ou não.

A gestão de combustíveis em mosaico contribui, simultaneamente, para, em caso de incêndio, haver uma redução da afetação das áreas de recuperação das galerias ripícolas que estão a ocorrer e que são promovidas, quer com estacaria de salgueiro, quer com a criação de obstáculos para a retenção de solo e água nas linhas de drenagem não permanente.

Contribui-se também para um aumento da disponibilidade alimentar para a fauna, direta ou indirectamente, esperando-se impactos positivos em diversas espécies e habitats, como por exemplo para a população de corço que está a ser expandida na região pela ACHLI.

As intervenções focam-se no aumento da diversidade, acelerando os processos naturais através de técnicas de engenharia natural aplicadas às linhas de água ou de drenagem, formando corredores ecológicos, abrigos para fauna e a base para a recuperação gradual de toda a área.

O apoio à regeneração natural de espécies arbóreas através da promoção do seu desenvolvimento vertical é uma prioridade, para diminuir a afetação de copas em caso de incêndio. As plantações complementares que fazemos, bem como a sementeira direta de bolotas, reforçam o desenvolvimento de bosquetes de elevada densidade de árvores para promover o fecho de copas e consequente controlo de matos.

Face ao deficiente banco de sementes, quer em quantidade, quer em diversidade, ao longo da época de plantação de 2017-2018, irão ser plantadas aproximadamente 2000 árvores autóctones, de espécies variadas, para aumentar a biodiversidade e contribuir para “matas comestíveis” que disponibilizem alimento ao longo do ano.

As plantações serão feitas em áreas previamente intervencionadas com fogo controlado e sistematização das linhas de drenagem, tirando partido da melhoria das condições de solo e água.
Até ao momento (Outubro), foram desenvolvidas 6 atividades de voluntariado, envolvendo 39 voluntários e totalizando um total de 118 jornas de trabalho, 3 ações de formação de engenharia natural (dois dias cada, componente teórica e prática) com uma média de 10 participantes, várias ações de disseminação no local (visitas ao projeto incluídas no Tradidanças, com 25 pessoas e na conferência de EuroParcs, com 9 pessoas, passeios promovidos pela Montis, com 10 pessoas), na freguesia (coorganização de seminário “FLORESTA: Sustentabilidade e rentabilidade na biodiversidade”), regionalmente e nacionalmente através de participação em iniciativas diversas (i.e. BioRia Estarreja) e internacionalmente, através da participação da Montis no projeto LIFE ELCN, que visa criar uma rede europeia de iniciativas privadas de conservação.

Regularmente é disponibilizada informação do projeto aos sócios, parceiros e entidades da rede de contactos própria.

Área Protegida: Sim
Rede Natura 2000: Sim
Concelho/Local exato: Carvalhais, São Pedro do Sul
Área Protegida e/ou Rede Natura 2000: Serras da Freita e da Arada – PTCON0047




 



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